Nem o mais pessimista dos especialistas diria, naqueles primeiros dias de março de 2020, que em março de 2021 nós ainda estaríamos enfrentando a Pandemia causada pelo Covid.
Temos ainda muitas dúvidas sobre o que o futuro mostrará para todos nós, especialmente, em termos de sociedade. Temos, no entanto, diversas certezas: a transformação digital é para todos, viveremos cada vez mais conectados, iremos aprender, desaprender e reaprender com cada vez mais coisas e em alta velocidade em um mundo novo a cada minuto. Levaremos ainda um tempo para encontrar nosso caminho como sociedade globalizada e fragilizada, mas também como seres humanos.
Muitos de nós, nem sequer podem se dar ao luxo de querer entender o que vem pela frente, por estarem tristemente envolvidos com a tragédia imposta por esse famigerado vírus.
Mas para os que, agora em março de 2021, olham para trás tentando compreender o que de bom foi feito lá atrás e precisa ser mantido, pensam em se proteger e sobreviver no presente e, ao mesmo tempo, miram o futuro e tentam se preparar, o que dizer?
Todos sabemos que o mundo, antes mesmo da eclosão da crise causada pela COVID-19, já estava em rápida transformação. Os avanços tecnológicos estavam cada vez mais frequentes e mais impactantes em nossas vidas. Falávamos em disrupção diariamente, como se destruir algo em prol de algo melhor fosse um fenômeno corriqueiro – o que não é.
Esse caos evolucionista, em que vivemos por mais ou menos 4 décadas, ficou conhecido como o Mundo Vuca – Vulnerável, Incerto, Complexo e Ambíguo (em tradução livre). Um cenário em que ficava claro que o sucesso pretérito não era salvo conduto para o futuro.
Desde o final da Guerra Fria, vivemos uma época de instabilidade evolucionista.
Era a disrupção para um novo mundo.
No entanto, esse ciclo parece se encerrar quando chegamos a 2020; vem a crise da COVID-19 e, com ela, uma nova fase, que agora é chamada de Mundo Bani.
Por BANI – Frágil, Ansioso, Não Linear e Incompreensível – criado pelo historiador e professor Jamais Cascio, entende-se uma estrutura de condições caóticas, ao invés de instáveis, imprevisível em contraponto à dificuldade de se antecipar e incompreensíveis e não mais ambíguas (dificuldade de interpretação entre duas situações).
Por Frágil (Brittle), algo sujeito a uma falha catastrófica. Algo que parece forte, mas ao ser atingido em um ponto específico, é destruído. Um exemplo, seria uma monocultura, que ao ser atacada por uma praga, pode ser toda destruída. Fragilidade significa não haver margem para correção de rota, uma falha e não haverá alternativa ao desmantelamento completo.
Ansioso (Anxious), que não precisamos de grandes digressões para entender, é a própria definição do mundo em que vivemos, especialmente nessa Nova Economia da Atração. Mais e mais devices, telas, redes, seriados, posts, vídeos ao mesmo tempo, colocando-nos em uma posição de escravidão pelo FOMO – Fear of Missing Out (Medo de Perder). Um mundo ansioso leva à depressão, ansiedade e medo.
Não linear (Nonlinear) é um cenário em que causa e efeito estão desconectados. Uma ação não necessariamente causará uma imediata reação, pois pode haver fatores obscuros e hipótese invisíveis, as quais impedem uma conexão entre causa e efeito. Conexões essas normais em nosso modelo mental causa-efeito.
Nas palavras do criador do acrônimo, “pequenas decisões acabam causando consequências gigantescas, boas ou ruins”. Uma característica desse novo mundo é a capacidade de as situações se exponencializarem, algo que nós humanos temos certa dificuldade em assumir no início.
Por fim, Incompreensível (Incomprehensible) é o que acontece quando um ponto de fragilidade é atingido, tudo está a desmoronar e não temos alcance para perceber. Por ansiedade e medo, é o certo a fazer, porque há uma guerra por atenção que nos faz não saber em quem acreditar, num evento que começa pequeno, em uma cidade desconhecida na Ásia e se torna a maior crise sanitária do século. Ficamos sem saber o que, de fato, aconteceu. Não sabemos como lidar, o que fazer, mas, o pior de tudo, como tudo começou, quem foi o responsável, como se vai resolver, se um dia vai acabar, aquilo que começou com uma pequena ação e parou o mundo.
Posto de forma muito simples pelo autor, “nós tentamos achar as respostas, mas elas não fazem sentido”.
A estrutura BANI cabe muito bem no cenário COVID-19, mas se o cenário se mantiver assim, é possível que ainda estejamos vulneráveis a novas situações que vão expor nossa fragilidade, ansiedade, não linearidade – exponencialidade – pessoalmente e como sociedade e, também, serão completamente incompreensíveis.
Talvez por isso, o melhor caminho seja uma reflexão interior sobre como cada um de nós, e as organizações a que fazemos parte, enfrentará o que vem pela frente. Um dia o COVID vai acabar, esperamos que em breve, e precisaremos, cada um com suas perdas e traumas, enfrentar um novo mundo.