A Inteligência Artificial (I.A.) está sendo utilizada na China e nos Estados Unidos de maneira intensa no combate à epidemia instalada pelo coronavírus.
Para que os algoritmos de I.A. sejam bem utilizados, eles precisam de uma plataforma específica de big data, poder de computação e trabalho de engenheiros de algoritmo especializados.
A China tem algumas vantagens em relação aos outros países, quando tratamos de desenvolvimentos recentes e poderosos na área de I.A.. Além da alta quantidade e qualidade de dados que a China produz através do monitoramento de sua população, o Governo chinês também dá amplo apoio financeiro para pesquisas relacionadas com I.A.
Muito se fala, que com o maior uso da I.A. em todo o mundo, muitos empregos desaparecerão. Pode ser verdade, as funções laborais que exigem repetição e são previsíveis, estão sendo substituídas pela automação ligada a I.A.
O autor Kai-Fu Lee, em seu livro Inteligência Artificial, prevê que dentro de quinze anos, a I.A. tecnicamente poderá substituir entre 40% e 50% dos empregos nos Estados Unidos.
Após, essa breve ponderação acerca da I.A., vamos tratar de fato no que ela pode ajudar a humanidade na luta contra a COVID-19.
A epidemiologia da COVID-19 é um composto de manifestações subclínicas de tempo prolongado (sintomas “fracos”ou inexistentes por muitos dias), baixa taxa de mortalidade e elevada taxa de transmissibilidade. É essa soma que faz com que estejamos diante de um cenário de 1 milhão de casos confirmados no mundo, mesmo que o primeiro deles tenha sido registrado há menos de 4 meses.
Essa alta capacidade de disseminação faz com que a doença atinja massivamente o sistema de saúde e imponha a governos a necessidade emergencial de tomar decisões de maneira imprevista, rápida, e com dados insuficientes.
Teóricos da I.A., como o filósofo sueco Nick Bostrom, dedicam-se há tempo a analisar e advertir dos riscos potencialmente letais da I.A, e muito disso é replicado pela mídia. Pouco foi publicado, até agora, acerca do potencial da I.A. para contar epidemias, menos ainda uma pandemia como a atual.
Caso se houvesse treinado algoritmos a trabalhar com dados de pandemias anteriores, como a Gripe de 1918, talvez estivéssemos melhor preparados. Mas o fato é que nunca ocorreu uma pandemia mundial concomitantemente à acessibilidade a dados como hoje, de modo que não teria sido possível chegar a bons resultados.
Isso determina um corte incisivo entre a maneira com que governos puderam agir no passado diante de epidemias, e a maneira como deverão agir daqui em frente – muito mais equiparados e dependentes de ciência e tecnologia.
Antes do primeiro caso confirmado de COVID-19, um sistema de I.A. canadense (Bluedot) detectou e alertou acerca de um tipo destoante de pneumonia. Mas o que se pode esperar além de um alerta desse tipo?
Além de alertas de surtos locais e identificação de mutações virais e sua distribuição demográfica, a I.A. contribui com a triagem de pacientes em ambiente hospitalar, estabelecendo melhores critérios de internação e avaliando a probabilidade de mau prognóstico. Com a determinação de quais pacientes têm maiores chances de apresentar sintomatologia de gravidade pode-se organizar a ocupação de leitos e as intervenções mais adequadas com maior eficácia.
Isso é de extrema importância visto que nenhum país estava completamente preparado com um número suficiente de respiradores mecânicos e EPIs (equipamentos de proteção individual) em seu sistema de saúde para enfrentar uma pandemia. Como escreveu o neurocirurgião inglês Henry Marsh, um dos encargos mais pesados da medicina é a responsabilidade (forçada por circunstâncias adversas) de escolher entre duas vidas.
Através de Machine Learning (ML), a I.A. é notavelmente capaz de identificar padrões. Esses padrões podem ser extraídos por exemplo de uma quantidade imensa de publicações científicas reunidas em bases de dados. Os padrões identificados desencadeiam sugestões de novos ensaios clínicos para testar hipóteses relacionadas a diagnóstico, controle de propagação, prognóstico, avaliação de intervenções e tratamentos.
A I.A. pode contribuir tanto descobrindo novos alvos terapêuticos possíveis no organismo humano, quanto comparando a eficácia de drogas existentes em grupos populacionais distintos.
Também, não menos importante, a I.A. é considerada a tecnologia de propósito geral do século XXI, trazendo benefícios gigantes que já estamos vivenciado e foram demonstrados no presente artigo. Por outro lado, existem questionamentos éticos do uso da I.A. relacionados à privacidade e seus impactos, principalmente no mercado de trabalho.
Por fim, em um momento em que a incerteza é preponderante – na saúde, na economia, no poder público – a utilidade da I.A. se apresenta de duas maneiras. Primeiro, em auxiliar em tempo real a tomada de decisões vitais com consequências diretas sobre os números que assolam o sistema de saúde e as vidas que dele dependem. Segundo, em avançar recursos científicos, médicos e governamentais no sentido de encontrá-los melhores em situações futuras. Afinal, não somos inatingíveis de novas mutações do SARS-CoV-2 ou de novos patógenos.